Ócio Criativo




Precisamos mudar
Para o consagrado sociólogo italiano, chegou o momento de apreciarmos o que possuímos (por Marcia Bindo)

Este simpático senhor de barbas brancas leva uma vida bem agitada: são mais de 12 horas de atividades todo dia, entre aulas, palestras e consultorias. Curiosamente, ele é conhecido no mundo todo como um arauto do ócio - na verdade, um tipo de ócio especial, o "ócio criativo". Ele diz que o trabalho intelectual deve ser motivador e criativo, o que só acontece quando o encaramos como uma atividade lúdica e de estudo, misturando-se ao que chamamos de "tempo livre". Para isso, de acordo com de Masi, precisamos de uma educação focada em uma vida mais simples, na qual haja redistribuição de tempo, trabalho, riqueza, saber e poder, privilegiando sempre a amizade e o amor. Domenico de Masi é diretor da Faculdade de Ciência e Comunicação da Universidade La Sapienza de Roma, na Itália. Escreveu cerca de 40 livros, entre eles os best-sellers O Ócio Criativo (Editora Sextante) e O Futuro do Trabalho (Editora Bertrand Brasil). Nesta entrevista, ele fala da necessidade de transformação para se conquistar uma vida melhor, menos estafante e mais divertida.

Como tornar a vida mais simples? Vida simples não quer dizer vida banal e, sim, aprender a dar sentido às pequenas coisas que temos ao redor. Nós é que tornamos a vida complexa, inutilmente complexa. Devemos começar reduzindo o consumo. A maior questão para o futuro da economia não é a produção da riqueza, mas a sua distribuição.

Precisamos mudar nossos valores? Sim, sobretudo o valor que damos ao dinheiro. Na nossa sociedade, ele aparece como o grande motivador das nossas vidas, porque as pessoas só pensam em trabalhar para consumir - a mania de comprar por comprar. A tendência do momento é pensar que agora que já se tem tantas coisas, é chegada a hora de poder apreciá-las. E tempo livre para isto é indispensável. Assim, uma parte do tempo livre deve ser dedicada à família, aos amigos e também à coletividade, contribuindo para sua organização civil e política. Outra parte deve ser dedicada a nós mesmos, aos cuidados com nosso corpo e nossa mente.

Isso implica mudanças também na esfera do trabalho? Sim. A tendência é fazermos menos serviços manuais e mais coisas com a mente, ao contrário do que aconteceu até agora na História da humanidade. Hoje, existem dois tipos de trabalho: o industrial - que exige pouco uso do cérebro, é mais mecânico e está se deslocando cada vez mais para os países do Terceiro Mundo, ou sendo feito por imigrantes pobres nos países ricos - e um novo tipo, o trabalho pós-industrial, mais flexível e criativo, que surge da ocorrência cada vez menor do trabalho industrial e mecânico.

Essa divisão do trabalho não parece muito evidente no mundo real. O que acontece é que o trabalho pós-industrial continua usando modalidades industriais, como a especialização, na qual o indivíduo fica restrito apenas a uma parcela da produção, e a centralização, em que a acumulação do poder se restringe a uma só pessoa. Muitas empresas mantêm esses traços do trabalho industrial, que evidentemente não funcionam para a atividade intelectual. E isso faz baixar a motivação do profissional, o que compromete o grau de criatividade, a eficiência e, no final, causa estresse.

Como então lidar com esse engano sem perder a motivação? Temos de tomar consciência da mudança e lutar para colocar em prática um novo pensamento na organização do trabalho. A consciência tem de se voltar para a amizade, o amor e a boa convivência. A motivação acontece quando o trabalho se funde com o tempo livre, o jogo e o estudo. Mas esse é um processo que demora. Só para dar uma idéia, a passagem da sociedade rural para a industrial levou 150 anos! Ora, é preciso um pouco de tempo também para passarmos da era industrial para a pós-industrial.

De que maneira estudo e jogo entram nessa receita? A principal característica da atividade criativa é que ela praticamente não se distingue do jogo, no sentido de diversão, e do estudo, na percepção de que sempre estamos aprendendo alguma coisa na vida. Quando trabalho, estudo e jogo se coincidem, estamos diante da síntese que eu chamo de "ócio criativo". Um pensamento zen diz que um mestre na arte de viver faz pouca distinção entre seu trabalho e seu tempo livre, sua mente e seu corpo, sua educação e sua recreação, o amor e a religião. Ele procura a excelência em qualquer coisa que faça e acredita que está trabalhando e se divertindo ao mesmo tempo.

O que individualmente podemos fazer? A curto prazo, a mudança de consciência pode ser uma atitude individual, mas ela só se efetivará quando toda a estrutura social do trabalho se modificar. Como sabemos, nosso modelo ensina que trabalho é sofrimento. Eu ensino aos meus alunos que trabalho é diversão. Por exemplo, tenho um escritório com 90 pessoas e lá o horário de trabalho compreende ir ao cinema, assistir a mostras e fazer amor. Sem dúvida, os que trabalham comigo são mais felizes e criativos. É o que chamo de "feminilização do trabalho".

Que conceito é esse? É um novo valor que está surgindo. A sociedade pós-industrial está delegando as tarefas cansativas e repetitivas para as máquinas, deixando aos humanos as atividades flexíveis, intuitivas e estéticas, nas quais as mulheres historicamente encontram-se mais bem preparadas que o homem. O sexo masculino sempre foi educado para agir de forma racional, rígida e programada, o que também está mudando. Se analisarmos atentamente a História, veremos que na sociedade pré-industrial a esfera emotiva era poderosa, pois, como não havia conhecimento dos fenômenos naturais, a intuição era muito usada. Na sociedade industrial, a razão dominou. Hoje, podemos voltar a valorizar, sem temor, também a esfera emotiva - o que já acontece em países que têm o que chamo de "modelo latino". Mesmo porque emoção, fantasia e racionalidade são ingredientes da criatividade. A racionalidade nos permite executar bem as nossas tarefas, mas sem emotividade não se cria nada de novo.

O que quer dizer "modelo latino" de sociedade? Classifico o modelo latino inspirado em sociedades como a francesa, a italiana e a brasileira, que são mais comunicativas, mais emotivas e cultuam valores como a amorosidade. Não são tão fundamentadas no acúmulo de objetos, como a sociedade americana, mas sim no significado dos objetos. Nos países latinos, mais que em quaisquer outros, mantiveram-se a arte do ócio criativo, o culto ao belo, o prazer da solidariedade. Essas sociedades conservam uma atitude de culto à alegria, à sensualidade, ao acolhimento e à festa popular, algo que quase todos os outros povos já perderam. Por isso, é mais provável que os latinos apresentem um modelo que garanta a todos a serenidade econômica sem exigir a renúncia à plenitude do espírito.

Comentários dos Prof. e Palestrante Paulo Barreto

A prposta desta obra é defender uma Teoria onde o futuro e de quem praticará o "Ócio Criativo", ou seja, pertece a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho. Como obrigação e for capaz de mesclar a teoria com a prática, atividades, como o trabalho, a família, o tempo livre e o estudo. Praticar... Praticar... Praticar!

Pense Nisso e boa semana!!!!    

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