A disciplina nas finanças pessoais


Fonte: ww.plenitudewebradio.com.br

Ter disciplina é essencial para atingir objetivos, seja de ordem pessoal ou profissional. Como exemplo, um atleta que não se empenha nas atividades de treinamento diariamente ou que sistematicamente cede às tentações da vida noturna não terá o mesmo êxito se comparado com um atleta disciplinado nestes aspectos. A presença da disciplina pode ser expandida para as mais diversas situações, como ter pontualidade no trabalho, estudar 8 horas por dia para um concurso, ir ao ginecologista a cada 6 meses, encarar uma dieta rigorosa, ou o simples ato de escovar os dentes após as refeições. Então, pergunta-se: porque não ter disciplina na utilização do nosso (suado) dinheiro?

Um dos mais respeitados gurus do mercado financeiro, o multibilionário Warren Buffett, ressalta os benefícios da disciplina financeira: “O sucesso nos investimentos não tem correlação com o QI, desde que o seu seja maior que 125. Se tiver uma inteligência mediana, o que precisa é de disciplina para controlar os impulsos que fazem com que as outras pessoas tenham problemas nos investimentos”. Evidentemente que seres humanos não raras vezes agem (e consomem!) de forma impulsiva, motivados por medo, pânico, incertezas, frustrações, enfim, uma série de sentimentos misturados que juntos nos levam a gastar nossa renda sem pensar direito no que estamos fazendo. Há vários estímulos para este tipo de consumo, como as gôndolas repletas de guloseimas e revistas de fofocas situadas próximas aos caixas de supermercados, farmácias e confeitarias, os apelos da mídia e as vistosas embalagens dos produtos.

O resultado de nos deixarmos dominar por estes instintos se personifica em nomes como SPC (Sistema de Proteção ao Crédito), SERASA, endividamento, aluguel atrasado, ou através de ligações do tipo: “Senhor, o seu crédito foi cortado”, ou “Senhor, o seu cheque voltou!”. Como em Economia “Não existe almoço grátis”, alguém vai ter que pagar essa conta mais hora menos hora, e é neste momento que a situação fica ainda mais séria, tendo em vista que as pessoas não querem reduzir as despesas no montante equivalente à dívida (com os juros!) para sanear as finanças: na prática, pedem empréstimos a amigos, familiares ou instituições financeiras (que cobram juros exorbitantes), visando a manter um nível de consumo incoerente com a renda.

Renomados especialistas da Psicologia dizem que o consumismo nada mais é que a compensação de frustrações pessoais. Assim, os indivíduos compensam suas frustrações, medos, decepções e desejos reprimidos comprando tudo o que veem pela frente, sem analisar o custo benefício dos bens adquiridos, o orçamento pessoal, ou a real necessidade de adquirir o produto. Inclusive, já existem trabalhos de aclamados economistas que contestam a racionalidade nas decisões econômicas individuais, supondo que não é a razão que motiva as decisões de consumo das pessoas, e sim o chamado “Espírito animal” – Robert Shiller, professor da Universidade de Yale, é um dos maiores expoentes no assunto.

É fundamental que as pessoas assimilem e pratiquem dois exercícios fundamentais ao lidar com as finanças pessoais. O primeiro deles é: o que gera valor é o trabalho! Logo, para consumir algo é necessário haver a riqueza necessária, obtida através das mais variadas formas de trabalho. Se uma instituição qualquer lhe oferece “juros baixos ” para financiar o consumo, cartões de crédito, ou mesmo dinheiro fácil, tenha em mente que ou você irá trabalhar mais (gerar mais riqueza) para honrar suas dívidas, ou em algum momento terá que reduzir alguma despesa por bem ou por mal.

O segundo exercício é saber que não há renda virtual e que ninguém dá dinheiro a ninguém. Assim, mesmo que você parcele suas contas em 1000 vezes no cartão de crédito, irá pagar da mesma maneira. Não caia na armadilha da promessa do “dinheiro fácil” - Se você fosse emprestar dinheiro àquele seu cunhado que mora no sofá da sua casa, vive todo endividado, e sobrevive às suas custas, certamente emprestaria o mínimo possível e cheio de ressalvas. Então, como poderia ser diferente com uma instituição financeira? Imagine a cena: chega alguém no banco, com o nome sujo, que mora de aluguel, e aí ele pede dinheiro emprestado – o que você acha que acontece? Eu ficaria feliz se todos concordassem que o cliente até poderá sair de lá com dinheiro na mão, mas com certeza ele terá de assinar milhares de documentos, arranjar um fiador, e os juros cobrados serão elevadíssimos.

A base de tudo isso é por demasiado complexa para discutirmos neste espaço, mas não podemos desconsiderar a influência da cultura da sociedade neste processo. Nos países do extremo oriente, como Japão e China, onde a parcimônia e a paciência são características enraizadas nos hábitos da população, não se valoriza tanto o consumo excessivo como na América do Norte, onde a sociedade tem cultura bastante diferente daquela. Na China inclusive, onde ainda não existe um sistema de Previdência Pública, procuram-se mecanismos para incentivar o consumo e tentar reduzir a cultura da “poupança para a velhice”. Talvez não seja por acaso que as artes marciais, sinônimos de disciplina e paciência, tenham sido inventadas nestas nações.

Ter uma solução definitiva sobre como as pessoas devem administrar suas finanças de forma eficiente não é tarefa fácil, mas algumas simples medidas podem ajudar. Partindo da premissa que ter disciplina para controlar nossos instintos é imprescindível e que a receita não pode ser inferior à despesa, efetuar uma simples planilha em Microsoft Excel demonstrando a previsão de gastos para o mês e o total de entradas no mês é um começo. Dessa forma, o indivíduo saberá se está aumentando a poupança mês a mês ou se está sistematicamente financiando seus gastos com a poupança acumulada anteriormente (caso ela exista, claro!). Para aqueles que possuírem uma disponibilidade maior de renda, contratar um consultor de finanças pessoais com o certificado CFP (do inglês - Certificação dos Profissionais Financeiros) é um ótimo caminho, mas novamente, só funcionará caso haja disciplina no cumprimento das recomendações. Quanto ao controle emocional, praticar artes marciais é uma saída para o autocontrole, e em última instância, fazer sessões de análise psicológica também é uma boa opção.

Autor Morilo Marins

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